quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Inferno particular

Faz algum tempo comecei a escrever algo sobre a frase copiada de algum lugar para meu messenger: “Talvez esse mundo seja o inferno de outro planeta”.
Enquanto pensava nas possibilidades de vida oferecidas no tal inferno, alguém sem pedir licença desafiava: “Talvez esse mundo seja o CÉU de outro planeta”.
Eu então me fiz exclamações e interrogações ao mesmo tempo (!?!?!?).
Como assim, alguém enxerga céu onde só existe sombra!?
Sei bem ser verdade que CÉU e INFERNO residem logo aqui dentro da gente. Mas a possibilidade de achar um céu se fazia impossível diante da confusão que só crescia e tornava turbulenta a vida dentro de mim.
Então, decidi pensar mais sobre o assunto e pensei, pensei... Ponderei.
Algum tempo se passou e hoje, testemunhando sorrisos e sonhos dando boas vindas ao ano que se anuncia, volto a sentir segurança nas sombras que me cercam.
Volto a pensar que céu e inferno estão dentro de mim e, muitas vezes, sinto vergonha de mim, de minha escolha. Afinal, “porque sofrer se você pode ser feliz?”, dizem por aí.
Mas, a verdade, é que céu e inferno trafegam juntos, sempre. Às vezes matam, às vezes fazem viver.
Enganam-se aqueles que do próprio céu julgam inferno o mundo de outrem, ou ainda quem do inferno, enxerga céu apenas no alheio. Às vezes, a consciência de que de nossos fantasmas apenas nós sabemos, é insuportável, provoca cegueira.
Resta, então, a certeza de que meu inferno é reduto particular, mundo desconhecido de todos. Nele, apenas eu sou visitante cativa, assídua.
Sei que de cada inferno, alguém busca planetas, terras longínquas, onde seres celestiais façam residência. A busca, no entanto, é vã.
CÉU e INFERNO continuam ao alcance de nossas difíceis escolhas, dentro de nós e não em lugares distantes.
A minha escolha? “Ao menos hoje meu mundo é apenas uma sombra.”

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

No mundo da lua*

Conheço um menino que se fosse desenho seria um misto de Menino Maluquinho e Fantástico Mundo de Bob.
Mas esse menino é real. Posso sentir seu cheirinho de traquinagem e ver no azul dos seus olhos um mar que não pertence à Terra.
Sua poderosa roupa de astronauta pode levá-lo aos planetas mais quentes, ou aos mais frios; às vezes até mesmo ao sol. Sua nave é capaz de escapar da força de um buraco negro e trazer de lá a luz capturada.
Em suas viagens há sempre uma legião de heróis: seres fantásticos que vão de dragões de mil anos a simpáticos morceguinhos que o guiam na escuridão.
No cinema e nos livros não tarda a incorporar os seres mais surpreendentes e não pense que ele será o domador das feras, ou o índio que salva a tribo. Na verdade, ele é o próprio dragão amigo dos homens e da natureza; é o espírito livre da floresta que ajuda o índio a virar herói.
Com sua inconfundível janela inferior aberta a novos sabores de aventura, traz sempre um sorriso branco de quem espera conquistar o mundo com a luz que nasceu fadado a carregar.
Dividido entre o real e o imaginário, não titubeia na hora de escolher a fantasia como meio para atravessar pontes e chegar a lugares mágicos onde todos os seus desejos podem se realizar.
A mim, resta a chance de ser diariamente convidada a cruzar a ponte mágica e viajar com ele sem previsão de terras onde aterrissar. E se às vezes meu eu adulto e rabugento pede que ele volte do mundo da lua, simplesmente me olha com aquele mar azul alienígena e desafia: “Ôxe mãe olha eu aqui!”.

(*) Texto dedicado ao meu pequeno viajante, ser capaz de nutrir com vida qualquer espírito moribundo.

Melancolia de uma jornalista


Necessidade enorme de histórias de gente... vontade vital de escrever. 
Que maldade é essa que trancafia os sentidos e deixa sem palavras essa minha vontade de contar?